[4] Projeto CCOMA - Peregrino

Projeto CCOMA - Peregrino
FOTO: MARCELO CASAGRANDE
Projeto CCOMA

Estamos no pequeno distrito de Cazuza Ferreira, na cidade de São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. Paisagem remota. A mistura de cores fortes da natureza parece ter sido incrementada para o cinema, ganhou casas de madeira e personagens enigmáticos. Foi esse o cenário escolhido para a gravação do vídeo que virou clipe de ‘Milonga Para Los Perros’, música do terceiro disco do Projeto CCOMA. Moradores do distrito foram convidados para encarar as lentes da câmera. Um rosto sofrido, outro melancólico, um olhar desconfiado, outro tímido. Vários seguram sua carteira de identidade. A senhora que aparece na frente das prateleiras de uma pequena venda aparenta ser a mais simpática, esboça um sorriso. Chega a vez de um rapaz com mechas loiras no cabelo e um piercing na sobrancelha. O homem de camisa amarela e avental preto (ótima combinação, por sinal) deu uma pequena pausa nos seus afazeres para também participar da gravação. Dirigido por Robinson Cabral, o clipe é encerrado com os integrantes do CCOMA, de terno preto, seguindo a pé numa estrada de barro, acenando para um fusca branco e uma motocicleta que passam ao seu lado. As imagens arrebatadoras do vídeo encaixam no som com perfeição. O resultado é emocionante.



Uma incrível experiência sonora e visual. Isso é ‘Peregrino’, disco inovador, corajoso, categórico. Entre o jazz e a música eletrônica, Roberto Scopel e Swami Sagara apresentam uma estética sonora envolvente, com referências inusitadas e multiculturais. Nas dez faixas que compõem o trabalho, os músicos fazem o ouvinte experimentar aquilo que chamam de música eletrorgânica, ou que pode ser determinada como future jazz. Não há como escapar da percussão empolgante de Sagara, do trompete e das surpresas de Scopel (como o claricano, uma espécie de clarinete feito com canos de PVC). Detalhes menores, entre o resgate do hang drum, o theremin e o berimbaixo (mix de berimbau e baixo), comprovam a originalidade do projeto, aceitável a partir do instante em que o duo consegue, com destreza, criar um estilo próprio e harmônico. Uma façanha para quem se propõe a brincar com música instrumental com tanta ousadia.

Scopel e Sagara também foram espertos na hora de fazer a lista de convidados de seu novo disco: escolheram cidadãos musicais. O trabalho foi co-produzido por Moises Matzenbacher, atualmente radicado em Londres. O vocal marcante do pernambucano Di Melo está em ‘Xangô é Rei’, enquanto Zeca Baleiro, maranhense e com ascendência síria, participa de ‘Cosmopolita’ apenas com vocalizes. João Luiz Oliveira contribui com duas faixas: ‘Milonga Para Los Perros’ e ‘Iracino y Cerenita’. Paulo Johann foi o convidado de ‘Caminho do Meio’ e já ‘Amazônica Fever’ é um featuring com Diogenes Baptisttella e Corina Piatti. Instrumento de sete cordas comum na Turquia, o baglama é tocado por Luciano Sallun em ‘Grand Bazaar’. A artista argentina Kinska assina os desenhos da capa e do encarte.

Das montanhas do sul do Brasil, um duo eletrônico num cenário rural nos convoca para uma peregrinação, para explorar novos territórios ao redor do planeta, considerar a identidade de cada povo, admirar contextos divergentes. É samba, é baião, é música caribenha, argentina, andina, africana. Combina com os encantos de Paris, com a pompa de Xangai. ‘Peregrino’ é um álbum excepcional e, em 2012, ampliou o alcance da música brasileira.

  COTAÇÃO:   96        [DOWNLOAD]






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