[2] André Mehmari - Canteiro

André Mehmari - Canteiro
FOTO: DIVULGAÇÃO
André Mehmari

Erudito ou popular? As questões polêmicas e controversas que envolvem o relacionamento entre a música erudita e a popular provavelmente nunca deixarão de existir. Por mais que os meios de distribuição evoluam, por mais que a forma como consumimos a música seja alterada com o passar do tempo, continua sendo uma tarefa difícil aliar características dos dois gêneros sem ferir os artistas mais conservadores ou sem se perder no mercado frenético e cruel sustentado pela massa. Mas os últimos anos na música brasileira foram generosos com os artistas situados no lado erudito, que viram o alcance de suas obras ser potencializado.

O genial André Mehmari é um dos maiores talentos da música brasileira contemporânea, autor de arranjos e composições para as formações orquestrais mais importantes do país. Com sua percepção apurada e um esmero fora do comum em qualquer produção que se envolva, Mehmari constrói uma discografia sublime, irretocável. Canteiro já nasce como o trabalho mais imponente e inovador da carreira do músico. Os números do álbum impressionam: dois discos totalizam trinta canções, envolvendo dez letristas, quinze cantores e vinte e seis instrumentistas.

O tema principal de Canteiro é o canto. Onde nascem as canções? “Minha intenção foi criar em cada canção uma fábula, um microcosmo que dialoga com esse grande jardim, o Canteiro”. André convidou compositores de primeira linha para dividir as faixas do álbum, o que resultou em letras ricas em lirismo, como Clara (assinada com Silvio Mansini) e Vento Bom (com Sérgio Santos). As vozes são de cantores consagrados da nossa música, como Luiz Tatit (Tenta Dormir), Mônica Salmaso (Apenas o Mar e Modular Paixões), Ná Ozzetti (Festa dos Pássaros) e Jussara Silveira (Viagem de Verão). “A resposta entusiasmada que recebi de cada intérprete ao apresentar a eles a ‘sua’ canção foi o termômetro perfeito para saber que estava no caminho certo”. Mas a grande surpresa desta parte vocal fica por conta do próprio Mehmari, que se revela um intérprete afinado e sensível em cinco canções (destaque para Cânticos dos Quânticos).

A atuação principal de André Mehmari em Canteiro é no piano, mas ele também aparece com vários instrumentos complementares: violão, guitarra, acordeom, rabeca, flauta, flautim, contrabaixo elétrico, escaleta, viola, charango, violino, bandolim, celesta, cravo, entre outros. O trio de base é completado pela bateria de Sérgio Reze e pelo contrabaixo de Neymar Dias. A magnífica Brilha o Carnaval, que encerra o primeiro disco, conta com a participação da Orquestra à Base de Sopro de Curitiba. A arte visual de Canteiro, concebida por Gal Oppido, está à altura de seus sons.

São poucos os que conseguem reunir tantos artistas brilhantes num trabalho autoral. Não é de hoje que o nome de André Mehmari está gravado na história da música brasileira, mas Canteiro pode ser a obra perfeita para aproximar o erudito do popular sem perder rigor. Isso passa longe de uma fusão de gêneros. Trata-se apenas do poder de conquistar cada vez mais ouvintes.

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