[7] Gal Costa - Recanto

Gal Costa - Recanto
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Gal Costa

A ousadia de Recanto não está limitada ao uso de elementos eletrônicos. É excitante saber que Caetano Veloso criou as belas músicas do álbum especialmente para a voz de Gal Costa. Faz sentido. A melancolia elegante e sóbria de Recanto Escuro não seria a mesma no timbre de outra intérprete. A faixa abre o disco e anuncia o clima cinza, misterioso, que predomina ao longo dos quase quarenta minutos que estão por vir. O vocabulário esmerado do compositor é usado sem economia em Cara do Mundo. A voz inebriante da cantora é medida na estranha Autotune Autoerótico, que afirma: “Não, o autotune não basta pra fazer o canto andar pelos caminhos que levam à grande beleza”.

A vida pode ser encarada como uma úlcera em Tudo Dói, uma das músicas em que os efeitos eletrônicos são mais eminentes. A bela melodia imprevista de Neguinho acolhe um jogo de casos que é característico da obra autoral de Caetano. Numa criativa autocrítica ao consumismo, eis a melhor música do disco. Seguem a virtuosa O Menino, a quieta Madre Deus, a devaneadora Mansidão e Sexo e Dinheiro, com mais um punhado de reflexões de um Caetano atual e inspirado. O batidão do funk carioca toma conta de Miami Maculelê e Gal não se intimida ao disparar: “Por que eu fui meter você no meu som, no meu bom?”.

O clima dançante é quebrado com a letra pungente de Segunda, que encerra o disco. Sem medo de enfrentar o novo, a dupla revive uma parceria de ouro da música brasileira com inovação de sobra, entregando uma surpresa atrás da outra. Mas o disco é dela. Digamos que este seja o primeiro trabalho de Gal Costa. Um início de carreira brilhante. 

  COTAÇÃO:   96        [OUÇA]






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